babalaza, babalaze n. f. ressaca (de bebedeira)
O dicionário Porto Editora regista o termo como moçambicanismo e propõe uma etimologia changana, babalaza, por sua vez derivada do ronga (ku)babalasa. A etimologia que mais vezes encontrei referida para os termos afrikaans e inglês (da África Austral) que correspondem a babalaza, respectivamente babalaas e babalass, é o zulu ibhabhalazi. Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende, sugere o contrário: que os termos bantos têm origem no termo afrikaans.
babar v. t. procurar obter as boas graças de alguém pelo elogio, engraxar
bacela n. f. oferta ao cliente, normalmente aumentando ligeiramente a quantidade do produto comprado
A minha avó, lisboeta, usava a palavra contrapeso para designar este tipo de oferta, mas não sei se tem outro nome em português europeu, até porque em Portugal a prática não é comum, e muito menos standard, ao contrário do que acontece em muitos lugares do mundo. O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo, propondo como étimo a palavra changana bàselà “id.”. Lopes, Sitoe e Nhamuende, no seu Moçambicanismos, apresentam váríos étimos possíveis, todos semelhantes, em xhosa, zulu, afrikaans e nas línguas tsonga.
badjia, bajia n. f. pastel salgado de farinha de feijão
Segundo Moçambicanismos, Lopes, Sitoe e Nhamuende, o termo tem origem árabe, tendo chegado ao português de Moçambique pelo urdu e pelo gujarati. Provavelmente, não se trata de um moçambinismo em sentido estrito, mas tem mais uso no português de Moçambique do que noutras variantes. Obrigado a Augusto Harculete pela correcção.
baiete interjeição? salve!, saudação a um chefe tradicional e, por extensão, a uma pessoa a quem se deve respeito
O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo. Em Moçambicanismos, Lopes, Sitoe e Nhamuende dizem que a palavra vem do zulu bayede, forma dialectal de balethe, e que era a expressão usada para saudar Ngungunhane.
baigonar v. t. pulverizar com insecticida (de Baygon ®)
bairro n. m. muitas vezes usado no plural parte periférica de uma cidade em que predominam as construções de materiais precários (por oposição a cimento), caniço
baixa n. f. terreno de cultivo junto de um rio
bala adj. só feminino? bonita (uma pessoa)
balacate n. m. planta gramínea usada para infusões e como tempero, Cymbopogon citratus
A planta tem dezenas de designações noutros países de língua portuguesa, das quais as mais comuns creio que são citronela, chá-príncipe e capim-limão (esta última no Brasil). Contribuição de Miguel e Soraia, Maputo. A designação moçambicana é parecida com outra que encontrei, belgate ou belgata.
balalaica n. f. Vest. fato completo de calça e camisa de 2 ou 4 bolsos e manga curta, conhecido em Portugal como safari
O dicionário Priberam online regista o moçambicanismo balalaica, “tipo de vestuário composto de calça e camisa”, sem referir etimologia imediata. É bem possível que se trate de uma marca.
banca fixa n. m. pequena loja, quiosque
A forma mais comum de comércio é a banca, que é, naturalmente, bastante móvel. A banca fixa é, assim, uma banca de um nível superior. Na realidade, porém, não é uma banca, mas sim uma casa.
bandazio n. m. Hist. criado dos senhores e senhoras afro‑portugueses [HM]
bandos n. m. p. designação popular de "bandidos armados", as tropas da Renamo durante a guerra civil [MC]
Contribuição de Álvaro Vidal-Abarca
baneane n. m. 1. Hist. comerciante indiano das costas africanas do Índico; 2. por extensão, comerciante indiano
O dicionário Porto Editora regista a palavra, só no plural [?]. Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende regista as variantes baniã e baniane. Ambas as obras dizem que a palavra vem do sânscrito, segundo Moçambicanismos, através do gujarati vaniyan, plural de vaniya, e, segundo o dicionário Porto Editora, através do hindu baniyan. A palavra banian também existe em inglês e o Concise Oxford concorda com a origem gujarati da palavra, de vaniyo “homem de casta de comerciantes”.
banga n. f. festa, farra
bangue n. (m. ?) cânhamo indiano, Cannabis sativa, marijuana, djadja, passa, suruma (do persa bang ou urdu bhang, do sânscrito bhanga)
O termo, sempre com definições incorrectas, figura nos dicionários consultados, sem ser referido como moçambicanismo. É verdade que se encontra em textos portugueses antigos, por exemplo, em descrições da Índia, de onde é originário. Em português contemporâneo, porém, nunca o ouvi usado a não ser por moçambicanos.
banguene n. m. botequim, taberna
banheira n. f. café duplo, abatanado
banja n. f. reunião de anciãos; reunião de família
O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo, atribuindo-lhe uma origem nhúnguè, e acrescentando-lhe um segundo significado, o de “casamento; lar”. O Priberam online também regista o termo, dando-o como masculino e definindo-o como “conselho, assembleia de hindus, em Moçambique”, definição que não corresponde ao seu uso em português de Moçambique actual. Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende, explica que o termo deriva do zulu e xhosa ibandla, “assembleia; reunião clânica; congregação religiosa”, pelo changana bhandla.
bara n. f. carrinho de mão (do inglês (wheel) barrow, “id.”)
Só ouvi em Manica, provavelmente devido à proximidade do Zimbábuè.
bare n. m. Hist. mina (de minério) [HM]
baruísta n. Hist. defensor do domínio independente do Báruè, aquando das campanhas de 1902 ou da revolta de 1917 (de Báruè, topónimo) [GL]
barulhar v. i. fazer barulho (“mas ali estão a barulhar muito todas as noites”).
Os dicionários registam a forma com este significado, mas só a ouvi em Moçambique.
bassopa ver passopa
batata doce do mato n. f. tipo de legume, Ipomoea aquatica
batata reno n. f. batata comum, não doce, Solanum tuberosum
Reno é a palavra suaíli e de outras línguas bantas que significa “português” e vem da palavra reino, com que os portugueses designavam a sua terra.
batepapista adj. e n. pessoa que fala muito, conta muitas histórias, exagerando um bocado e pondo algumas mentiras pelo meio, tanguista, endrominador, papudo.
Provavelmente, a expressão não é um moçambicanismo, mas antes importada do Brasil.
bater v. t. roubar
bazar n. m. mercado, praça
bazo n. m. Hist. escravo encarregado de tomar conta dos escravos [HM]
O dicionário Priberam online define o moçambicanismo bazo como sendo específico de Quelimane (deve provavelmente entender-se como da Zambézia) e significando “juiz cafreal” [sic].
bazuca n. m. cerveja de 550 ml (ver ampola)
Contribuição de Miguel, Maputo. A expressão aparece registada em Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende, mas é apresentada como referindo-se a uma garrafa de 1 litro e tendo caído em desuso.
bebinca, bibinca n. f. massivo? bolo em camadas, de origem goesa
Não se trata de um moçambicanismo em sentido estrito, mas a palavra é provavelmente mais conhecida em Moçambique que noutros países de língua portuguesa. Segundo Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende, o termo é de origem concanim e usa-se também no português do Brasil.
beijo-de-mulata n. m. planta de flores vistosas, Catharanthus roseus, indígena de Madagáscar e muito popular em Moçambique
Talvez o nome beijo-de-mulata não seja usado só em Moçambique, mas parece ser o nome que é sempre usado em Moçambique. Encontrei também, sobretudos em sites brasileiros, os nomes vinca (que refere também outras plantas…), vinca-de-gato e boa-noite.
bichar v. i. fazer bicha, estar na fila
bicho n. m. Hist. empregado de casa, porteiro [HM]
big adj. grande (palavra inglesa)
biri‑biri n. m. tambor de guerra [GL]
O dicionário Porto Editora define biribíri como “tambor de guerra usado em África”. O Priberam online define biribiri como “tambor de guerra em forma de charuto grosso e curto usado pelos negros”. É bem possível que não seja de facto um moçambicanismo.
bitonga adj. e n. grupo étnico de Inhambane; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua.
O dicionário Porto Editora define Bitongas [sic] como sendo um “povo que vive nas proximidades da serra da Gorongosa”, o que é incorrecto.
bizeniceiro n. m. comerciante, vendedor informal (do inglês business, “negócio”)
biznar v. t. vender (do inglês business, “negócio”)
Provavelmente, não se trata de um moçambicanismo em sentido estrito, Em Moçambique, parece prevalecer o uso transitivo, no sentido de “vender”, e não o uso intransitivo significando “fazer negócios”.
boca n. f. Hist. pagamento para se obter uma audiência com um chefe [HM]
boss, boiss n.m. sobretudo como vocativo patrão, tratamento usado sobretudo por vendedores para os potenciais clientes, principalmente se forem brancos...
bombar v. i. fugir, pirar-se, abrir
bongolo n. e adj. burro; desajeitado; ignorante
O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo e propõe uma origem changana, mbòngòlò, “burro”. Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende apresenta a variante bongola, com o mesmo significado, e dá como étimo último o zulu imbongolo, “mula, asno”, pelo changana bongolo. A palavra parece ser usada para designar o animal burro noutras línguas da região.
brada n. m. amigo, compincha, amigalhaço, bro (do inglês brother, “irmão”)
brai n. m. churrasco (do afrikaans braai, “id.”)
bro n. m. amigo, compincha, amigalhaço, brada (palavra inglesa, abreviatura de brother, “irmão”)
buiça, buissa v. t. defectivo, só com a forma da segunda pessoa (tu?) do singular do Imperativo (“buiça (tu) alguma coisa!”) dá, dá cá
bula-bula, bulabula n. f. conversa; conversa fiada
O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo, propondo uma origem ronga (ku bula-bula, “conversar”). Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nahumende, diz que a palavra vem do changana kubula, “falar trivialmente”, e acrescenta ao sentido de “conversa informal”, o sentido de “boato”, que diz que não tem na língua original.
business, bizness, bizne n. m. negócio (palavra inglesa, a segunda e terceira forma são adaptações)
busy [bizi], também escrito bizi adj. ocupado (palavra inglesa)
butaca n. f. Hist. 1. escravos domésticos 2. poder [HM] [GL]
O dicionário Porto Editora regista o moçambicanismo butaca com o significado de “herança; sucessão”, propondo como étimos as palavras sena unthaka e nhúnguè utaka, ambas com o mesmo significado que butaca. Se se alargar a definição de escravos domésticos de modo a incluir chicundas (soldados escravos) e servos em geral, a relação entre butaca 1. e 2. é fácil de estabelecer, sobretudo num sistema onde o poder de um chefe não é compreendido como baseado no domínio de território, mas sim de pessoas (o sistema de tipo feudal que se chama em inglês enslavement e que eu não sei como se chama em português). A relação entre as duas definições encontradas por mim e a proposta pelo dicionário Porto Editora é também fácil de estabelecer.
Por favor corrija "Solanum tubesorum" para "Solanum tuberosum"
ResponderEliminarMuito obrigado, José Esteves-Pereira!
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarUau! Gostei imenso de ter encontrado esta pagina. Valeu a iniciativa.
ResponderEliminarLindo
ResponderEliminarBom trabalho, bravo.
ResponderEliminarSou moçambicano vivendo ha 26 anos em França e tenho notado em cada visita a Moçambique, a transformaçâo do português, sobretudo pelos mais jovens. O tratamento por "tu" por exemplo, tende a ser a norma.
Faço parte dos que usam o portugês como lingua materna e com sotaque europeu mas adoro os "moçambicanismos" sobretudo quando se trata de acrescentar um "brin" de humor.
Uma vez mais parabéns pelo seu trabalho.
Anselmo MAGAIA
Algumas aqui na letra B q eu nem fazia ideia que exsitem aoutras me lembrei delas
ResponderEliminarCaro VÍTOR LINDEGAARD,
ResponderEliminarSou moçambicano (kokwana mesmo) e muito usei balalaica. A balalaica é só a camisa/camiseta que tem a particularidade de ter três ou, mais frequente, quatro bolsos, manga curta (em Moçambique) e se usa por fora do calção ou das calças. O safari é o conjunto calção, balalaica e meia alta. Na minha juventude o termo safari era sobretudo utilizado no Zimbabwé.
Bravo pelo seu trabalho
Álvaro
parabéns, Vitor, belo trabalho
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