Este trabalho tem, provavelmente, muitas incorrecções. Colocam-se-me sobretudo três tipos de dúvidas:

• nalguns casos, é bem possível que eu tenha tomado por moçambicanismos expressões que são apenas criações individuais;

• outras vezes, posso ter considerado moçambicanismo uma expressão local, compreendida apenas pelos falantes da língua da região;

• posso ainda ter considerado moçambicanismo alguma expressão de variantes do português que não conheço bem, sobretudo brasileirismos (ver caixa sobre esta questão ao fundo da página);

• finalmente, no caso de nomes de animais e plantas, é-me muito difícil saber quando é que os nomes que encontrei nas minhas pesquisas são realmente moçambicanismos ou são usados também noutras regiões de língua portuguesa – castanha de Inhambane ou maçaniqueira de Tete são obviamente moçambicanismos, mas amendoim do corvo sê-lo-á também?


As vossas críticas e sugestões (incluindo correcções de gralhas e de defeitos de layout), deixem-nas, por favor, nos comentários ou escrevam para

lucaslindegaard@gmail.com

Como isto é um glossário e não um verdadeiro blogue, os comentários serão apagados ao fim de algum tempo, nas arrumações periódicas que faço. Prefiro que me escrevam para o e-mail acima ou que me deixem um contacto nos comentários, para poder haver diálogo sobre as vossas propostas.

Identifico sempre a pessoa que me sugeriu uma determinada entrada (com o nome e outros dados que constem do comentário ou do e-mail que escreve, a não ser, claro está, que me dê indicações em contrário).
_______________________________________________

Ao fundo da página, há algumas notas sobre o português de Moçambique:

Instabilidade no uso dos pronomes objecto

Construção com nem no início de frase

Redobro

Pronúncia do português em Moçambique

Particularidades da voz passiva

A questão dos brasileirismos

Só as minhas definições e propostas etimológicas é que são... minhas!...

Quero deixar claro que o facto de citar, nos comentários às entradas, definições ou propostas etimológicas de outros dicionários não significa que concorde com elas. Nalguns casos, discuto-as ou assinalo a minha estranheza com um [sic]; noutros casos, limito-me a apresentar a informação sem a comentar.
A ++B ++C ++D ++E ++F ++G ++H ++I ++J ++L ++M ++N ++O ++P ++Q ++R ++S ++T ++U ++V ++X ++Y ++Z

Atenção: Opto por uma grafia aportuguesada de todos os empréstimos, pelo que uso, por exemplo, ca, que, qui, co e cu, em palavras que muitas vezes se escrevem com ka, kha, ke, khe, ki, khi, ko, kho, ku e khu. Assim, escrevo cabanga e não kabanga, muquero e não mukhero. O leitor deve ter em conta esta opção ao procurar palavras no glossário. Há também muita instabilidade na transcrição do som [š], ora com ch ora com x, pelo que devem verificar ambas as grafias possíveis. Por exemplo, a palavra que às vezes se vê grafada chicuembo, chikuembo, etc., aparece aqui como xicuembo.

A - Z, VERSÃO RESUMIDA

ESTA É UMA VERSÃO SIMPLIFICADA DO GLOSSÁRIO, PARA PODER FIGURAR INTEIRA NA PRIMEIRA PÁGINA DO SITE.
Clicando nas letras do alfabeto acima, acederá à versão completa (uma página para cada letra), com imagens ilustrando alguns verbetes, comentários, referências às definições de outros dicionários, discussões da etimologia e da selecção de alguns vocábulos, e ainda indicação dos leitores do blogue que propuseram a entrada, quando é caso disso.

abada n. f. Zool. Hist. rinoceronte.

aboboreira de Inhambane n. f. Telfairia pedata, castanha de Inhambane

abunhado n. m. Hist. colono que vivia nas terras do senhorio, obrigando-se a viver e a trabalhar nelas

acabar v. t.? (com expressões de tempo: acabar X tempo) passar, estar (“a Cláudia acabou 2 meses no hospital à espera de ser operada”) 

açafrada n. f. cártamo, Carthamus tinctoris [CVP]

acertar v. com dativo prender; apanhar (“a polícia desconseguiu de lhe acertar”)

achar [àchar] n. m. conserva picante de fruta ou legumes à maneira indiana (de manga, limão, cenoura, etc.) (do urdu achar)

acidentar v. i. ter um acidente (“Foi aqui que o Vasco acidentou”)

adimo n. m. Hist. inimigo; descendente de escravos ligados à família do senhor

afatado adj. bem vestido; fino, aperaltado, apinocado

afinal adv. usado como interjeição exclamação de surpresa, que corresponde a “ah, sim?” ou “não me digas!” em português europeu

água-e-sal n. f. (água-e-sal de galinha, de peixe, etc.) processo culinário, que consiste em cozer com água, cebola, tomate e gordura, tocossado

ainda adv. (como resposta a perguntas sobre se algum evento já ocorreu) ainda não (“Já vieram os técnicos da TDM?” “Ainda.”)

ajaua adj. e n. membro de um grupo étnico do Niassa; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua, yao

alacavuma, halacavuma n. m. mamífero insectívoro, pangolim, Manis temminckii (de várias línguas da região, entre as quais as línguas tsonga, ndau e cópi)

algodão bravo n. m. planta, Gossypium herbaceum africanum [CVP]

almadia n. f. canoa; pequena embarcação (do árabe ± al-madia)

amanhecer v. i. (alguém amanhecer) ficar acordado até de manhã, passar uma noite em branco, fazer uma directa; (alguma coisa amanhecer) ficar toda a noite num lugar

amendoeira de fudaman n. f. tipo de árvore, Terminalia catappa [CVP]

amendoim do corvo, amendoim do trevo n. m. tipo de ervas do género Oxalis, azedinha, erva azeda, trevo falso [CVP]

ampola n. f. garrafa de cerveja de 340 ml (ver bazuca)

animar v. i. ser bom; dar prazer (“chima de milho é melhor, mas aquela caracata também anima”)

antepassado adj. penúltimo

apa n. f. acompanhamento de diversos pratos, feito de um polme frito, que também pode ser comido com doce, como panqueca

areca n. f. noz moscada

aringa n. f. Hist. tipo de fortificação do séc. XIX paliçada, chuambo (séc. XVII), mussito (séc. XVIII) [HM]

aumentar v. t. pôr (“ele já aumentou pneus novos no carro”); antónimo de diminuir = tirar

azedinha n. m. tipo de ervas do género Oxalis, amendoim do corvo, amendoim do trevo, erva azeda, trevo falso [CVP]

babalaza, babalaze n. f. ressaca (de bebedeira)

babar v. t. procurar obter as boas graças de alguém pelo elogio, engraxar

bacela, bassela n. f. oferta ao cliente, normalmente aumentando ligeiramente a quantidade do produto comprado 

badjia, bajia n. f. pastel salgado de farinha de feijão

baiete interjeição? salve!, saudação a um chefe tradicional e, por extensão, a uma pessoa a quem se deve respeito

baigonar v. t. pulverizar com insecticida (de Baygon ®)

bairro n. m. muitas vezes usado no plural parte periférica de uma cidade em que predominam as construções de materiais precários (por oposição a cimento), caniço

baixa n. f. terreno de cultivo junto de um rio

bala adj. só feminino? bonita (uma pessoa)

balacate n. m. planta gramínea usada para infusões e como tempero, Cymbopogon citratus

balalaica n. f. fato completo de calça e camisa de 2 ou 4 bolsos e manga curta, conhecido em Portugal como safari

banca fixa n. m. pequena loja, quiosque

bandazio n. m. Hist. criado dos senhores e senhoras afro‑portugueses [HM]

bandos n. m. p. designação popular de "bandidos armados", as tropas da Renamo durante a guerra civil [MC]

baneane n. m. 1. Hist. comerciante indiano das costas africanas do Índico; 2. por extensão, comerciante indiano

banga n. f. festa, farra

bangue n. (m. ?) cânhamo indiano, Cannabis sativa, marijuana, djadja, passa, suruma (do persa bang ou urdu bhang, do sânscrito bhanga)

banguene n. m. botequim, taberna

banheira n. f. café duplo, abatanado

banja n. f. reunião de anciãos; reunião de família

bara n. f. carrinho de mão (do inglês (wheel) barrow, “id.”)

bare n. m. Hist. mina (de minério) [HM]

baruísta n. Hist. defensor do domínio independente do Báruè, aquando das campanhas de 1902 ou da revolta de 1917 (de Báruè, topónimo) [GL]

barulhar v. i. fazer barulho (“mas ali estão a barulhar muito todas as noites”).

bassopa ver passopa

batata doce do mato n. f. tipo de legume, Ipomoea aquatica

batata reno n. f. batata comum, não doce, Solanum tuberosum

batepapista adj. e n. pessoa que fala muito, conta muitas histórias, exagerando um bocado e pondo algumas mentiras pelo meio, tanguista, endrominador, papudo.

bater v. t. roubar

bazar n. m. mercado, praça

bazo n. m. Hist. escravo encarregado de tomar conta dos escravos [HM]

bazuca n. m. cerveja de 550 ml (ver ampola)

beijo-de-mulata n. m. planta de flores vistosas, Catharanthus roseus, indígena de Madagáscar e muito popular em Moçambique

bichar v. i. fazer bicha, estar na fila

bicho n. m. Hist. empregado de casa, porteiro [HM]

big adj. grande (palavra inglesa)

biri‑biri n. m. tambor de guerra [GL]

bitonga adj. e n. grupo étnico de Inhambane; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua.

bizeniceiro n. m. comerciante, vendedor informal (do inglês business, “negócio”)

biznar v. t. vender (do inglês business, “negócio”)

boca n. f. Hist. pagamento para se obter uma audiência com um chefe [HM]

boss, boiss n.m. sobretudo como vocativo patrão, tratamento usado sobretudo por vendedores para os potenciais clientes, principalmente se forem brancos...

bombar v. i. fugir, pirar‑se, abrir

bongolo n. e adj. burro; desajeitado; ignorante

brada n. m. amigo, compincha, amigalhaço, bro (do inglês brother, “irmão”)

brai n. m. churrasco (do afrikaans braai, “id.”)

bro n. m. amigo, compincha, amigalhaço, brada (palavra inglesa, abreviatura de brother, “irmão”)

buiça, buissa v. t. defectivo, só com a forma da segunda pessoa (tu?) do singular do Imperativo (“buiça (tu) alguma coisa!”) dá, dá cá

bula-bula, bulabula n. f. conversa; conversa fiada

business, bizness, bizne n. m. negócio (palavra inglesa, a segunda e terceira forma são adaptações)

busy [bizi], também escrito bizi adj. ocupado (palavra inglesa)

butaca n. f. Hist. 1. escravos domésticos 2. poder [HM] [GL]

cabanga n. f. tipo de cerveja tradicional, oteca, pombe, uputu

cabedula, cabedulas n. m. ou f. calções

cabritismo n. m. apelo à corrupção ou aceitação de ser objecto desta; num sentido alargado, aceitação de qualquer fraude, participando directamente nela ou fechando apenas os olhos, para obter proveitos pessoais, normalmente materiais; extorsão

cabrito n. m. qualquer caprino, jovem ou adulto

cacana 1. n. f. planta, Momordica balsamina, usada para a alimentação e para fins medicinais, sobretudo em infusão; 2. também macacana n. m.? (regionalismo de Sofala?) peixe de água doce

cacata adj. e n. agarrado ao dinheiro; pessoa agarrada ao dinheiro, avarento, forreta, sovina

cafre n. e adj., cafreal, adj. Hist. 1. designação genérica dos povos nativos da África Austral; relacionado com estes povos 2. (sobretudo no séc. XX) Muito ofensivo, com conotações fortemente racistas negro, em geral; bárbaro, rude, selvagem (do árabe kafir, “infiel”)

cafurro n. m. casca do coco, usada como lenha

calamidades n. f. p. roupa em segunda mão, xicalamidades (de “donativos para apoiar as vítimas das calamidades naturais”)

camisete n. f. camisola de manga-curta, t-shirt

campainhar v. i. tocar à campainha

cana (doce) n. f. plantas do género Saccharum, especialmente Sachharum officinarum, cana-de-açúcar

canário de Moçambique n. m. tipo de ave, Serinus mozambicus, xirico

caneco n. (adj.?) goês; de ascendência goesa

canfumo n. m. chefe tradicional, abaixo de um samassua

canganhiça n. f. aldrabice; batota; trabalho mal feito

canhar v. t. (alguém canhar alguma coisa ou alguém) dar pancada em; (fig.) dar cabo de aleijar, magoar; (fig.) estragar, destruir

canho, canhoa n. f. fruto do canhoeiro, Sclerocarya birrea (ou caffra), ocanho (do ronga nkanye, segundo [PM])

canhoeiro n. m. tipo de árvore, Sclerocarya birrea (ou caffra), ocanheiro (ver canho para discussão da etimologia)

caniço n. m. parte periférica de uma cidade em que predominam as construções de materiais precários (por oposição a cimento), bairro (de bairro de caniço)

caniço africano n. m. Phragmites mauritianus [CVP]

canimambo [classificação?] obrigado/a

cantina n. f. loja geral, botica

cantineiro n. proprietário de uma cantina, lojista (de cantina)

capaz adj. usado como interjeição expressão de negação, recusa, repúdio, “nem pensar!”, “nada disso!”, “fora de questão”.

capenta, peixe-capenta (muitas vezes grafado kapenta) n. m.? espécie de peixe pequeno de água doce, Limnothrissa miodon, que foi introduzido na albufeira de Cahora Bassa e que aí é pescado em grandes quantidades

capere pequeno n. m. tipo de erva, Paspalidium geminatum [CVP]

capim arroz, capim arrozeiro n. m. tipo de erva daninha, Echinocloa corona, deolinda, falso arroz [PD]

capim de hipopótamo n. m. tipo de erva, Ischaemum fasciculatum [CVP]

capim digitada n. m. tipos de ervas do género Digitaria, pulseira de menina [CVP]

capim do Chire n. m. tipos de ervas do género Urochloa (de Chire, topónimo) [CVP]

capim do Limpopo n. m. tipo de erva, Echinochloa pyramidalis (de Limpopo, topónimo) [CVP]

capim elefante n. m. tipo de erva, Pennisetum purpureum [CVP]

capim espiga de prata n. m. tipo de erva, Imperata cylindrica, capim pluma de prata [CVP]

capim estrela n. m. tipo de erva, Dactyloctenium aegyptium [CVP]

capim niapa n. m. tipo de erva daninha, Rottboellia exaltata [PD]

capim parte-enxada n. m. tipo de erva, Panicum maximum [CVP]

capim pé de galinha n. m. tipo de erva, Eleusine indica, naxenim bravo [CVP]

capim pluma de prata n. m. tipo de erva, Imperata cylindrica, capim estrela de prata [CVP]

capim rosália do areal n. m. tipo de erva, Eragrostis ciliaris

capinadeira n. f. instrumento para cortar o capim, cuja lâmina forma um ângulo obtuso relativamente ao resto da ferramenta.

capinar v. t. tirar o capim, sachar, mondar

capulana n. f. pano usado principalmente como saia ou para levar os bebés às costas

caracata n. f. massa de farinha de mandioca

caril n. m. comida que acompanha a massa, geralmente um molho; molho (de caril, “mistura de temperos asiática”, de origem controversa)

carregar v. t. ou com dativo levar (também pessoas) (“eu carrego-lhes para casa”)

casquete n. f. boné de uniforme (do francês casquette, “boné”)

castanha (de caju) n. f. semente do cajueiro, Anacardium occidentale, (castanha de) caju

castanha de Inhambane n. f. Telfairia pedata, aboboreira de Inhambane

catanar v. t. (alguém catanar alguma coisa ou alguém) cortar com catana; agredir com catana

catchaço n. m. bebida destilada, aguardente, tontonto (de cachaça, adaptado à fonética das línguaa bantas?)

catembe n. f. vinho tinto com Coca-Cola (de Catembe, topónimo)

catorzinha n. f. (adj.?) rapariga muito jovem encarada como objecto sexual.

cavalo n. m. camião cuja cabina é independente do(s) atrelado(s)

cereja silvestre n. m. Dovyalis hispidula e Dovyalis longispina [LP]

chacuti, xacuti n. m. prato goês, de que o coco torrado é um dos ingredientes principais

chambocar, chamboquear 1. v. t. (alguém chambocar alguém ou algum animal) bater com chamboco; açoitar; chicotear; vergastar 2. v. i. estudar muito, marrar (de chamboco)

chamboco n. m. instrumento para bater em pessoas, chicote, cavalo-marinho; vara; pau; (prov. do afrikaans sjambok, do urdu chabuk pelo malaio samboq ou chambok).

chamuar, xamuar n. amigo/a

chanfuta n. f. tipo de madeira rija, Afzelia quanzensis

changana adj. e n. grupo étnico de Gaza e Maputo; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

changane n. m?. espécie de pequena corça, Neotragus moschatus (do tsua changane ou do ronga e cópi xlhengane)[CVM]

chango n. m. tipo de veado, Redunca arundinum (de várias línguas moçambicanas, changana xlhango e changu, ronga xlhango e hlangu, cópi xlhango, tsua chango) [CVM]

chango-da-montanha n. m. tipo de chango, Redunca fulvorufula

chapa (cem) n. m. ou f. transporte colectivo, semiformal; por extensão, qualquer automóvel que transporte pessoas a troco de algum dinheiro (de chapa, “preço único”, de cem meticais) fazer chapa: cobrar dinheiro pelas boleias que dá nas suas deslocações (“quando vai a Nampula comprar material, o Faustino faz sempre chapa”); usar um automóvel como chapa (“ele anda a fazer chapa com o carro da companhia”)

chapo-chapo, tchapo-tchapo adv. 1. depressa 2. de forma directa, sem rodeios (do inglês chop-chop, “depressa”, do chinês dialectal k'wâi-k'wâi)

chegar v. i. ir (“já chegaram lá naquele restaurante novo?”)

cheua adj. e n. grupo étnico de Tete; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

chibalo n. m. Hist. trabalho forçado

chibante adj. e n. bonito, bem arranjado, estiloso; beleza, pessoa bonita

chicunda n. Hist. escravo soldado ao serviço de um prazeiro

chima n. f. papa de farinha e água, usada como acompanhamento, comida, massa, sadza, úchua

chissila n. m. maldição [MC]

chona adj. e n. grupo étnico do Zimbábuè; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

chuabo adj. e n. grupo étnico da Zambézia; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua (de chuambo)

chuambo n. m. Hist. tipo de fortificação do séc. XVII, paliçada, mussito (séc. XVIII), aringa (séc. XVII) [HM]

chuanga n. m. Hist. intérprete, mediador [Não sei qual foi a fonte, esqueci-me, pelos vistos, de anotar].

chuínga n. f. pastilha elástica (do inglês chewing gum, “id.”, literalmente “goma de mascar”)

chunga moio n. m. mercado informal, na Beira, dumba nengue, nas outras zonas do país (expressão ndau, “aperte o coração” = seja valente)

chunguila, xunguila, xonguila adj. 2 gén. bonito

cimento n. m. parte central de uma cidade, muitas vezes correspondente à cidade colonial, que tem só edifícios de tipo europeu, por oposição a caniço ou bairros (“ele agora está a morar no cimento”

cinquentinha n. f. motorizada de 50 cm cúbicos

cinzentinho n. m. polícia de giro (da cor do uniforme)

clara adj. (qualificando cerveja) branca (por oposição a escura)

cocone n. m. boi-cavalo, Connochaetes taurinus [AM]

cocuana n. m. idoso

cofió [còfió] n. m. chapéu muçulmano (do árabe keffya, kufiyya, talvez do latim tardio cofia, cofea, “capacete”)

colateral n. m. garantia (para um empréstimo bancário) (do inglês collateral, “id.”)

cólmane n. m. caixa térmica, geleira (de Coleman ®)

colono n. m. Hist. camponês africano livre na área de um prazo, mussenze [HM]

comida n. f. papa de cereais, sobretudo milho, chima, massa, sadza, úchua

concho n. m. pequena embarcação escavada canoa, piroga (de concho, “recipiente para líquidos escavado em madeira”?) [MC]

concunhada, concunhado n. cunhada ou cunhado do cônjuge

congolote n. m. animal com muitas pernas, da classe Diplopoda [MC]

consogra n. f. mãe do genro ou da nora

consogro n. m. pai do genro ou da nora

conto n. m. mil meticais antigos = um metical novo (de conto [de reis], “mil escudos”)

contraparte adj. e n. Desenv. pessoa ou instituição a trabalhar directamente com o cooperante ou a organização de cooperação e ao mesmo nível (do inglês counterpart, “id.”)

cópi adj. e n. grupo étnico de Inhambane e Gaza; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

corta-mato n. m. caminho mais curto que o caminho principal, atalho

cotação n. f. previsão do custo de um trabalho, orçamento (aportuguesamento do inglês quotation, “orçamento (de um empreiteiro, por exemplo)”)

cóti adj. e n. membro de um grupo étnico da Zambézia; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

cuácua, ncuácuá, macuácua n. f. árvore de fruta, Strychnos madascarensis; o fruto desta árvore.

cuche-cuche, cucho-cucho n. m. 1. previsão do futuro, horóscopo tradicional 2. feitiço, xicuembo

cucunha n. m.? massivo? coco muito pequenino

culimar v. t. trabalhar a terra, cultivar; cavar

curativo n. m. chamada de atenção, descompostura, descasca (“ele estava a abusar, tive de lhe dar um curativo”)

curva n. f. Hist. pagamento feito pelos portugueses ao Monomatapa (do chona (antigo?) kuruva, “id.?”) [HM]

cut [cát, cât] adj. que está sob o efeito de estupefacientes ou de álcool, bêbedo, drogado (termo de calão britânico que significa “bêbedo”)

defrentar v. t. enfrentar (alteração de enfrentar ou construído a partir da locução de frente?)

deitar v. t. deitar fora (“isto é para deitar?”)

deolinda n. m. tipo de erva daninha, Echinocloa corona, capim arroz, capim arrozeiro, falso arroz [CVP]

depende forma do v. depender, como frase fixa como preferir, como quiser (“Posso pagar com cheque, ou tem de ser com dinheiro?” “Depende.”)

desconseguir v. (alguém desconseguir de fazer alguma coisa) não conseguir

desenhar v. t. (único objecto directo é projecto ou equivalente) Desenv. conceber, esboçar, planear (um projecto) (do inglês design, “conceber, esboçar, planear”)

desenho n. m. Desenv. concepção, esboço (de um projecto) (do inglês design, “concepção, esboço”)

desmontar v. t. (só na passiva?) despromover

dever (dinheiro) v. t. pedir (dinheiro) emprestado (“patrão, eu queria dever dinheiro”)

diminuir v. t. tirar (“vamos diminuir aqui algumas árvores, mas não todas”); antónimo: aumentar = pôr

dindar v. i. não dar, não ser possível; não conseguir; ter azar

djadja n. f. cânhamo indiano, Cannabis sativa, marijuana, bangue, passa, suruma.

djampar, djambar v. i. sair de casa, ou de outro lugar, sem os pais, ou outros responsáveis, darem por isso; desenfiar-se (do inglês jump, ”saltar”)

djaua n. m. gajo, tipo

djeze [djéze] adj. (n.?) bêbedo, gueze

djico n. m. (na expressão “dar um djico”) passeio, volta

djimar, gimar v. i. fazer ginástica; fazer exercício (do inglês gym, abreviatura de gymnastics, “ginástica”)

djô interj.?, usada como vocativo referência à pessoa com quem se fala, como pá (“não dá, djô”) (prov. do inglês Joe, nome próprio, diminutivo de Joseph)

djobar [djòbar] v. i. trabalhar (do inglês job, “emprego, trabalho”)

djóni, djone n. m. as minas da África do Sul (estar no/ir ao djóni) (de Johnny, no sentido de “o país do Johnny”)

dona n. f. não vocativo 1. Hist. senhora de um prazo [HM] 2. senhora (“falei com uma dona que estava aqui...”)

dough [dou] n. m.? dinheiro, tacos, titchapau (palavra inglesa, com o significado original de “massa (de pão, por exemplo)”, mas usada também em calão com o sentido de “dinheiro”)

dumba (nengue) n. m. mercado informal, chunga moio (expressão ronga, “confia no pé”, isto é, “tens de fugir, se aparecer a polícia”)

dzimar v. t. espetar, meter; rematar (uma bola para a baliza)

ecoce n. m?. tipo de antílope, Sigmoceros lichtensteinii = Alcelaphus lichtensteinii, gondonga, nameriga, vaca-do-mato (do macua e yao ecoce) [CVM]

empeado adj. em pé, de pé

empoderamento n. m. Desenv. reforço do poder real (social, económico, político) de um grupo ou sector de população (de poder, segundo o modelo do inglês empowerment, “id.”)

emprestar v. t. pedir emprestado (“posso emprestar o guarda-chuva?”=“pode emprestar-me o guarda-chuva?”/“posso levar o guarda-chuva emprestado?”)

engarrafar v. t. submeter, dominar através de magia; enfeitiçar

ensaca n. f. Hist. regimento de soldados chicundas [HM]

erva azeda n. m. tipo de ervas do género Oxalis, amendoim do corvo, amendoim do trevo, azedinha, trevo falso [CVP]

erva feiticeira do milho n. f. tipo de ervas daninhas do género Striga, especialmente Striga asiatica [PD] [CVP]

erva fura pé n. f. tipo de erva, Tribulus terrestris [CVP]

escáfia n. f. 1. acto de estragar, destruição 2. acto sexual

escafiar v. t. 1. estragar 2. (prov. considerado tabu) ter relações sexuais com, foder

escalar v. t. (com topónimo) chegar a; fazer escala em (“O Presidente escalou Chimoio)

escolinha n. f. escola pré-primária, jardim infantil, creche.

escura adj. (qualificando cerveja) preta (por oposição a clara)

esquilo papagaio n. m. animal do género Pteromys, esquilo com os membros anteriores e posteriores ligados por uma membrana que lhe permite planar de árvore para árvore, esquilo voador

estado n. m. estar de estado: estar grávida.

estaleca n. f. força, energia; robustez, pujança física

estilar v. i. mostrar-se, pavonear-se, gingar

estrela de picos n. f. Acanthospermum hispidum [DC] [CVP]

facholo n. m. 1. enxada [MC]; 2.

facocero, facochero, facoquero n. m. espécie de suíno selvagem, Phacochoerus africanus.

falso arroz n. m. tipo de erva daninha, Echinocloa corona, capim arroz, capim arrozeiro, deolinda [CVP]

famba interj. (imperativo de verbo defectivo?) vai‑te embora! ala, xô!, suca (de famba, “andar, ir”, comum a várias línguas da região)

faraçola n. f. Hist. medida de peso de cerca de 18 libras [HM]

farm, farme, farma n. f. quinta onde se faz agricultura comercial, por oposição a machamba (palavra inglesa, às vezes ligeiramente aportuguesada),

farmeiro n. dono de uma farm, agricultor comercial, por oposição a camponês, do sector familiar.

fecalismo n. m. (nas expressões “fecalismo a céu aberto” ou “fecalismo público”) acto de defecar; defecação

feijão buer ou buere n. m. tipo de leguminosa, Cajanus cajan.

feijão cute n. m. tipo de leguminosa, Vigna unguiculata, feijão nhemba, namerrua

feijão cutelinho n. m. tipo de leguminosa, Lablab purpureus [PD]

feijão fresco n. m. feijão verde

feijão jugo (às vezes, também feijão jogo, criticado) n. m. tipo de leguminosa, Vigna aconitifolia, Phaseolus aconitifolius

feijão macaco, feijão mascate n. m. tipo de erva daninha, Mucuna pruriens [PD] [CVP] [LP]

feijão nhemba n. m. tipo de leguminosa, Vigna unguiculata, feijão cute, namerrua

feijão holoco, feijão soloco, feijão soroco n. m. tipo de leguminosa

ficar v. i. não passar (num exame ou teste); chumbar (“fiquei em três, tenho de fazer segunda chamada”); antónimo de sair = passar

flat [flete] n. f. apartamento (palavra inglesa)

florinha n. f. o naipe paus das cartas

folgado adj. (n.?) que está ou é relaxado, despreconceituoso, sem preocupações (também devido ao efeito de álcool ou drogas) (“ele estava bem folgado ontem”)

fotar v. t. ou com dativo fotografar (“estou a pedir me fotar”)

four-by-four [fòbaifó, fôbaifô] carro de tracção às quatro rodas (expressão inglesa)

fox adj. 2 gén. zangado

frescar 1. v. imp. fazer fresco (“lá fora fresca mais”) 2. v. i. apanhar fresco (“vou até lá fora frescar”) (de fresco ou alteração de refrescar?)

fuma, nefuma n. f. farinha feita a partir da polpa seca da cuácua

fumar v. t. matar a tiro

fumba n. ( f. ?) Hist. saco de dormir [HM]

fumo n. m. Hist. chefe africano [HM]

gala-gala, galagala n. m. lagarto (nome de várias espécies)

ganho-ganho n. m. trabalho rural remunerado, pago ao dia ou à tarefa (por oposição aos sistemas de ajuda mútua)

geleira n. f. frigorífico

gelinho n. m. gelado de sumo artificial, congelado e vendido em saquinhos de plástico

ginga n. f. bicicleta

gingar v. i. mostrar-se, pavonear-se, estilar

gondonga n. f. tipo de antílope, Sigmoceros lichtensteinii = Alcelaphus lichtensteinii, ecoce, nameriga, vaca-do-mato (do tsua, ndau e sena gondonga) [CVM]

grise n. m. massa consistente (do inglês grease, “id.”)

guadjissa, guadjiça n. assaltante, ladrão.

guadjissar, guadjiçar v. t. assaltar, roubar

guevar v. i. ou t. [güèvar] comprar em quantidade para revenda (de gweva, nome (“revendedor”), comum a várias línguas do sul de Moçambique

gueze adj. (n.?) bêbedo, djeze

hafunahafo (os agás pronunciam-se) adv. meio por meio, metade para cada um (do inglês half and half)

hambanine adv.? adeus

halacavuma n. m. ver alacavuma

adv. expressão de assentimento, sim, pois (do afrikaans ja, “id.”?, do inglês yeah, “id.”?)

imbabala n. m. espécie de antílope, Tragelaphus scriptus

imbila n. f. tipo de árvore, Pterocarpus angolensis, cuja madeira é muito utilizada em marcenaria, construção civil e construção de barcos, umbila

incomodado adj. doente

incube n. m. Hist. aldeia [HM]

infelicidade n. m. morte (normalmente de pessoa próxima)

inhacuaua n. m. Hist.? emissário [GL]

inhacoso n. m. tipo de antílope, Kobus ellipsiprymnus, também chamado piva

inhala n. ( f.?) tipo de antílope, Tragelaphus angasii (prov. do suaíli nyala) [AM]

jágara, jagra n. f. animal parecido com um lémure, da família Galagidae

jam [jâme ou djâme] n. (m. ?, f. ?) doce, compota (palavra inglesa)

jambalau, jambalão n. m. árvore, Syzygium cordatum Hochst [LP]

ladrão n. m. vários peixes do género Lethrinus [CVM]

laminar v. i. (e t.?) falar incorrectamente, dar pontapés na gramática, dar calinadas

lângua, langua n. f. terreno pantanoso, zona alagadiça

languçar v. t. espreitar; ver, observar

lanho n. m. coco jovem, ainda cheio de água e com a parte fibrosa ainda mole, que não se pode usar para cozinhar, mas de que se bebe a água

leão da Rodésia/do Zimbábuè n. m. raça de cão, originária do Zimbábuè, chamada, em inglês, ridgeback

levar v. t. trazer, ir buscar (“Não tem cinzeiro? Um momento, eu vou levar”)

lifete n. m.? doce de Inhambane, de amendoim pilado com farinha de mandioca e açúcar.

lobolar v. t. e i. pagar lobolo

lobolo n. m. preço a pagar por uma esposa ao pai desta

lolo n. m. Hist. designação que se encontra em obras antigas dos povos da baixa Zambézia, provavelmente lómuès

lómuè adj. e n. grupo étnico da Zambézia; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

luane n. m. Hist. casa de campo de prazeiro [HM]

luar v. i. fazer/estar/haver luar (“hoje está a luar muito”)

lugar n. m. montinho de mercadoria (fruta, legume, etc.), usado como unidade de comércio nos mercados (“cada lugar de tomate está a 10 meticais”)

luzio n. m. Hist. barco de rio [HM]

mabulundlela n. m. Hist. tsonga ao serviço do rei de Gaza [HM]

maca n. f. problema, confusão, briga, disputa, milando, timaca

macaiaia n. f. empregada que toma conta das crianças, ama

macambúzio adj. triste, taciturno; mal-humorado

macangueiro n. m. feiticeiro, nhamussoro

maçanica n. f. fruto da maçaniqueira (de maçã)

maçaniqueira n. f. nome de várias árvores de frutos, nomeadamente do género Ziziphus e a Cupania racemosa Tadek (maçaniqueira de Tete) [LP] [CVP]

machamba n. f. terreno de cultivo, normalmente do sector familiar

machambar v. i. fazer machamba [MC]

machila n. f. Hist. 1. palanquim, liteira [HM] 2. tecido africano de algodão, machira [HM]

machileiro n. m. Hist. carregador de machila [HM]

machimba, matchimba n. f. fezes

machimbombo, machibombo n. m. camioneta de carreira; autocarro

machongo n. m. terra fértil de terrenos argilosos [MC]

machua n. f. (também m.?) pequena embarcação para levar as pessoas à praia a partir de uma embarcação maior; bote, batel, lancha 

maconde adj. e n. grupo étnico de Cabo Delgado e Niassa; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

macua adj. e n. grupo étnico de Nampula, Zambézia, Niassa e Cabo Delgado; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

macuaiela n. m. estilo musical do Sul de Moçambique, oriundo da África do Sul e praticado sobretudo por grupos de homens

macubar n. m. folha de palma entrançada, para cobertura de casas, macute (na zona de Quelimane)

macute, macúti n. m. folha de palma entrançada, para cobertura de casas, macubar

macumbe n. m. revestimento exterior do coco, fibroso, muitas vezes usado como escova; cairo

madala n. m. homem de certa idade, referido com respeito

madgermane, madgermano n. (ex-)emigrante na RDA (do tsonga majarimani, “alemão”, do inglês German)

madjiba, majiba n. m. informante da Renamo, durante a guerra

madjonidjóni, madjonedjone n. m. emigrante nas minas da África do Sul (do changana, de John + o prefixo ma-)

madoda n. m. ancião

madrassa n. f. escola muçulmana (do sânscrito? madrissah, “escola”)

madumbe n. m. inhame, taro, Colocasia esculenta

mãe n. f. (sobretudo como vocativo) senhora, como tratamento de respeito

mafileiro n. m. planta, Vangueria randii S. Moore [LP]

mafurra n. f. fruto da mafurreira, de sementes oleaginosas

mafurreira, mafureira n. f. tipo de árvore, Trichilia emetica

mafuta adj. e n. m. e f. gordo

magaíça, magaíza n. m. trabalhador das minas de ouro da África do Sul, madjonidjóni, madjonedjone

magajojo n. m. holotúria, pepino-do-mar

maguerre [magüerre] n. (adj.?) pessoa branca, mucunha, mulungo, muzungo, xicaca

magumba n. f. tipo de peixe miúdo, Hilsa kelee [CVM]

mahala [mahala (o agá pronuncia-se)] adv. e adj.? de graça, gratuitamente; gratuito

maheu [o agá pronuncia-se] n. m. massivo bebida feita de farinha de milho e açúcar

mainate, mainato n. m.  empregado doméstico que se encarrega do tratamento das roupas (ver também sabão‑mainate)

majobo n. m. Hist. oficial do reino de Gaza [HM]

malambe n. m. fruto do embondeiro, Adansonia digitata.

malta n. f. colectivo (seguido de nome de pessoa) grupo de amigos habituais de (“Passei pelo Piri-Piri, estava lá a malta Cilinha.”)

malemo n. m. Hist. piloto de navio [HM]

mamana n. f. senhora; mãe

mambo n. m. chefe tradicional

mamparra n. e adj. (pessoa) incompetente, inexperiente, ignorante

manamambo n. m. Hist. funcionário africano de um prazo, com funções de gestor [HM]

manâmbua, muanâmbua n. e adj. 2 gén. mau, malvado, safado, filho da mãe; ordinário

mangungo n. m. merenda, sobretudo o farnel que se leva para o trabalho

maningue adj. e adv. muito

mantacassa n. f. neuropatia tropical, doença causada pela ingestão de certos tipos de mandioca [MC]

mapira n. f. cereal da família dos sorgos, como o Sorghum vulgare ou o Sorghum bicolor arundicaeum (mapira brava)

maquela n. f. variedade de mandioca [MC]

marrabenta n. f. tipo de dança e música do Sul de Moçambique, sobretudo da zona de Maputo

marreco n. m. tipo de peixe da costa oriental da África Austral, Chrysoblephus puniceus [CVM]

massa 1. n. f. Cul. papa de farinha e água, usada como acompanhamento, chima, sadza, úchua

massa 2. n. m. zimbabueano branco (do inglês master, “senhor; dono”)

massala n. f. fruto da massaleira

massaleira n. f. tipo de árvore, Strychnos spinosa

mata-boi n. m. barra de protecção dianteira para automóveis, abaixo do pára-choques

matabichar v. i. tomar o pequeno-almoço

mata-bicho, matabicho n. m. 1. pequeno-almoço 2. gorjeta, saguate

mataca n. f. barro usado como reboco de casas

matacanha, mataquenha n. m. insecto parasita que se aloja nos pés, Tunga penetrans.

matacar, maticar v. t. cobrir de lama a estrutura de madeira de uma casa; rebocar a barro (matacar do macua matthaka, “lama”, maticar provavelmente de outra língua moçambicana)

mataco n. m. traseiro, nádegas

matacuzana n. f.? jogo, sobretudo de crianças, em que se atiram algumas pedrinhas ao ar e se tenta apanhar outras pedrinhas antes de elas caírem; jogo das cinco pedrinhas (do ronga mathakusana, “id”.?) 

matambira n. (f.?) dinheiro

matapa n. f. espécie de esparregado de folhas de mandioca, com amendoim, e às vezes coco, camarão seco ou caju

mata-peixe n. m. planta da família das leguminosas, Tephrosia vogelii

matchessa, matchesa n. f. palhota pequena no quintal de uma casa, geralmente com paredes abertas, de caniço ou outro material leve, para descansar, comer ou beber, perron (do chona)

matical, mitical, metical n. m. Hist. medida de ouro equivalente a cerca de 155 onças ou 4, 34 kg (do árabe mithqal, “id.”) [HM]

matope n. m. lama; lodo (de matope, plural de ntope, “id.”, comum a várias línguas da região)

matoritori, matoretore, matorritorri [acentuação na penúltima sílaba em todas as variantes] n. m. doce de açúcar e coco, semelhante à patanícua

matrecar v. i. i ser saloio, ter mau gosto; v. t. 1. enganar, fazer parvo de 2. deixar ficar mal, deixar mal visto (do português popular matreco, prov. de matrecos, abrev. de matrequilhos, forma popular de matraquilhos, “futebol de mesa”, por sua vez de matraca, pelo barulho que faz)

matsanga, matsangaíssa, matsangaíça n. m. combatente, membro ou simpatizante da Renamo, durante a guerra entre este movimento e o governo da Frelimo (do nome próprio André Matsangaíssa, primeiro líder da Renamo)

mazione n. membro de uma das igrejas zionistas cristãs da África Austral (de ma + zione, de Zion, cidade do Estado de Illinois, EUA, onde foi fundada a Christian Catholic Apostolic Church, que deu origem às igrejas zionistas da África Austral)

mboa n. f. tipo de legume do género Amaranthus, amaranto, nheue

metical n. m. unidade monetária de Moçambique (de matical)

mexe-mexe n. (m.?) infecção na vista, conjuntivite

mexoeira, às vezes também meixoeira n. f. designação de vários tipos de milho-miúdo ou milho painço, nomeadamente Pennisetum glaucum, Pennisetum typhoides (mexoeira-de-junco) e Eleusine coracana (mexoeira-de-dedo)

micaia n. f. nome comum a várias espécies de arbustos espinhosos do género Acacia
 

milando n. m. problema, confusão, briga, disputa, maca, timaca

miombo n. m. tipo de paisagem predominante em Moçambique (designação completa floresta de miombo) onde predominam as árvores da subfamília Caesalpinioideae (do suaíli miombo, nome das árvores do género Brachystegia)

missanga n. f. (contável ou massivo) conta colorida (de colar)

missonco n. m. Hist. tributo, mussoco [HM]

mitombo n. m. remédio, mezinha

moageira n. f. moagem (de cereais); máquina de moer cereais

moçambaz, muçambaz, massambaz n. m. Hist. negociante africano

mocazambo n. m. Hist. chefe de um grupo de escravos [HM]

mola n. f. dinheiro

moluene n. m. menino da rua (do ronga molwene, do português esmola)

mongo n. m. amêndoa do cajueiro [LP]

monhé, muenhé adj. e n. indiano (de várias línguas do Norte do país e suaíli, monye e mwenye, “senhor”)

morro de muchém n. m. termiteira

morador n.m. Hist. residente não africano em território português

morrumbala n. f. dique largo e relativamente alto que circunda as localidades ribeirinhas, para proteger das cheias do Zambeze

muana n. m. rapaz, mufana

muâni adj. e n., muitas vezes grafado mwani grupo étnico de Cabo Delgado; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua 


muave n. m. Hist. teste de inocência pela ingestão de veneno [HM]

mucapata n. f. prato zambeziano feito de feijão soloco pilado com arroz e leite de coco

muchém n. f. s., massivo térmites, Isoptera spp.

mucunha n. (adj.?) pessoa branca, maguerre, mulungo, muzungo, xicaca (do macua mukunya, “patrão”)

muene n. m. 1. Hist. chefe eleito das comunidades islâmicas [HM] 2. chefe tradicional, acima de um samassua

mufana n. m. rapaz, muana

mujelejele n. (m. ?, f. ?) tipo de árvore [GL ]

mulala n. f. planta (Euclea natalensis), cuja raiz é usada como dentífrico (de várias línguas da região)

mulungo n. (adj.?) pessoa branca, maguerre, mucunha, muzungo, xicaca (de várias línguas moçambicanas)

muquerista n. comerciante transfronteiriço informal, pessoa que pratica o muquero

muquero n. m. comércio transfronteiriço informal, no Sul do país, com a Suazilândia e com a África do Sul

mussambaz n. m. Hist. comerciante africano, ao serviço de um senhor ou não [HM]

mussenze n. m. Hist. camponês africano livre na área de um prazo, colono [HM]

mussiro n. m. 1. Bot. tipo de árvores, Olax dissitiflora 2. pasta cosmética feita a partir da planta do mesmo nome (do macua)

mussito n. m. Hist. tipo de fortificação do séc. XVIII, paliçada, chuambo (séc. XVII), aringa (séc. XIX) [HM]

mussoco n. m. tributo, missonco [HM]

mussopo, messopo, msopo n. m. (regionalismo de Sofala?) peixe-gato, peixe com bigodes e sem escamas

muzungo n. 1. (adj.?) pessoa branca, maguerre, mucunha, mulungo, xicaca 2. Hist. senhor afro-português [HM] (de várias línguas do Norte do país)

nada ? expressão de discordância, não (de nada (disso))

nambauane n.? adj.? campião, o maior, o melhor (do inglês number one, “número um”)

nameriga n. f. tipo de antílope, Sigmoceros lichtensteinii = Alcelaphus lichtensteinii, ecoce, gondonga, vaca-do-mato (do chuabo nhamurringa) [CVM]

namerrua n. (m.?) tipo de leguminosa, Vigna unguiculata, feijão cute, feijão nhemba

nascer v. t. dar à luz, parir, ter (filhos)

naxenim bravo n. m. tipo de erva, Eleusine indica, capim pé de galinha [CVP]

ndau adj. e n. grupo étnico de Sofala; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

negar v. t. recusar (“ofereceram‑me um emprego, mas eu neguei, era mal pago...”)

neneca n. f. (sobretudo na expressão fazer neneca) transporte de um bebé às costas, numa capulana; acto de nenecar

nenecar [nènècar] v. t. trazer (um bebé) às costas

nganga, ganga n. m. adivinhador; aquele que atira ossículos adivinhatórios

nhacoda n. m. Hist. escravo encarregado de tomar conta das escravas [HM]

nhamussoro n. m. feiticeiro, macangueiro [MC]

nhanja adj. e n. membro de um grupo étnico do Niassa e de Tete; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

nheue n. (m.?) tipo de legume do género Amaranthus, amaranto, mboa

nhoca 1. n. f. cobra 2. adj. (de uma pessoa) mau (de nhoca 1.) (do tsonga nyoka, “id.”)

nhongo n. m. inveja (do changana?)

nhúnguè [nhúngüè] adj. e n. membro de um grupo étnico de Tete; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

nice, às vezes escrito naiss [naice] adj. bom; bonito; agradável; simpático (palavra inglesa)

ninja n. m. membro de uma quadrilha de assaltantes (de ninja, “guerreiro japonês (especialista de ninjutsu)”, do nome dado a si próprio pelos membros de um bando de Maputo)

nipa n. m. bebida alcoólica feita de cereais (do malaio nipah, nome de uma bebida alcoólica, do nome de um tipo de palmeira?)

ntxuva, ntchuva n. m.? jogo de estratégia e cálculo aritmético, jogado num tabuleiro de madeira ou no chão

ocanho n. f. fruto do canhoeiro, canho, canhoa (do ronga nkanye, nkanyu) [PM]

ocanhoeiro n. m. tipo de árvore, Sclerocarya caffra, canhoeiro (do ronga nkanye, nkanyu) [PM]

ocar n. m. tipo de peixe, Thryssa sp. [CVM]

oteca n. f. cerveja tradicional (do macua otheka), cabanga, pombe, uputu

outro adj. um (“encontrei ontem outra gaja amiga” por “encontrei ontem uma gaja minha amiga”, ou seja, sem que tenha havido antes no discurso referência a nenhuma gaja amiga)

pai n. m. (sobretudo como vocativo) senhor, como tratamento de respeito

palapala, pala-pala n. (m.?, f.?) tipo de antílope, Hippotragus niger

palmeira do marfim n. f. Hyphaene crinita Gaerth [LP]

pangaio n. m. embarcação mais pequena que um zambuco, do mesmo tipo (do árabe? bangwa)

panga-panga n. f. tipo de madeira dura, Millettia stuhlmannii

panja n. f. Hist. medida de capacidade entre 27 e 30 litros [HM]

papudo adj. (n.?) Fam. pessoa que fala muito, conta muitas histórias, exagerando um bocado e pondo algumas mentiras pelo meio, tanguista, endrominador, batepapista

pargo n. m. nome de vários peixes do género Lutjanus [CVM]

passa 1. n. f. (como massivo ou não: “ele fuma passa de vez em quando” ou “ele fuma uma passa de vez em quando”) cânhamo indiano, Cannabis sativa, marijuana, bangue, djadja, suruma 2. n. f. cigarro de Cannabis sativa, charro, joint

passopa [passópa], bassopa interj.? ou v. defectivo no imperativo cuidado! (do afrikaans (neerlandês) pas op, “id.”)

pata de ganso n. f. planta, Chenopodium album [CVP]

patamar n. m. Hist. agente comercial africano, na ilha de Moçambique e na parte continental adjacente a ela [HM]

patanícua n. f. 1. (massivo?) doce de amendoim e/ou coco e açúcar, em forma de losango 2. o naipe ouros das cartas (de patanícua 1.)

patchar, paxar, patlhar v. i. invocar os antepassados, fazendo-lhes ofertas

paua n. m. poder (político, social) (do inglês power)

pauoso adj. que tem poder; poderoso (de paua)

pau-rosa n. m. árvore, Berchemia discolor Hems [LP]

peixe-pedra n. m. designação de vários peixes do género Pomadasys

pegar pé v. i. Hist.? pedir perdão, pedir desculpa [GL]

pega-pega n. (m.? f.?) tipo de erva, Bideus pilosa [CVP]

pende, peixe-pende n. m. peixe de água doce, tilápia, do género Oreochromis

penembe n. m. tipo de lagarto, varano do Nilo [MC]

pera (abacate) n. f. (pera) abacate

perron n. f. palhota pequena no quintal de uma casa, geralmente com paredes abertas, de caniço ou outro material leve, para descansar, comer ou beber, matchessa (palavra francesa)

pimenta n. f. massivo (“Não precisa de pimenta?”) pimento ou pimentão (Capsicum) doce verde e vermelho

pita n. f. rapariga, miúda (de pita, “galinha”?)

piva n. m. tipo de antílope, Kobus ellipsiprymnus, também chamado inhacoso

plástico n. m. contável saco de plástico

pleia n. m. (adj.?) homem que anda com muitas mulheres, playboy (do inglês player? abr. de playboy?)

pombe n. m. cerveja tradicional, cabanga, oteca, uputo

portuguesa n. f. camisola de manga curta com dois botões e gola, pólo

postar v. t. pôr no correio (cartas) (do inglês post, “id.”)

prazeiro n. Hist. senhor de um prazo

prazo (da Coroa) n. m. Hist. concessão de terra pela Coroa portuguesa

presídio n. m. Hist. cidade ou vila fortificada; por extensão, cidade ou vila [HM]

profundar v. t. aprofundar

psipoco n. m. fantasma, xipoco [MC]

pulseira de menina n. m. tipo de ervas do género Digitaria, capim digitada [CVP]

quebra-pedras n. (m.? f?) planta, Chamaesyce mossambicensis [CVP]

querença n. f. vontade (“ele foi‑se embora por sua querença, ninguém o obrigou”)

quiabo bravo n. m. plantas do género Hibiscus [CVP]

quinhenta n. f. antiga moeda de cinquenta centavos (de quinhentos (réis)). No singular, item de polaridade negativa, que só se pode usar nas expressões não ter/valer/etc. uma quinhenta, “não ter/valer/etc. nada/um chavo/um tostão/um tuste/etc.”; trocar em quinhentas, “explicar melhor, mais em detalhe; trocar por miúdos”

quissapo n. m. Hist. saco [HM]

quite n. m. Hist. trono [HM]

quizumba n. f. hiena

ralo n. m. banco de madeira com uma espora de ferro na parte da frente, que se usa para ralar coco

Rand n. m. África do Sul [MC]

ratazana n. f. roedor do mato do género Thryonomys, cuja carne é muito apreciada (duas espécies: Thryonomys gregorianus e Thryonomys swinderianus)

refresco n. m. bebida gasosa, refrigerante

regulado n. m. território de um régulo

régulo n. m. chefe tradicional (do latim regulum, “pequeno rei”)

reparar v. t. olhar (“reparar para o chão, deve estar aí nalgum lado”)

ronga adj. e n. grupo étnico da zona de Maputo; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

rufe adj. de mau gosto, de má qualidade, reles, desprezível, rafeiro, foleiro (do inglês rough, “rude, tosco, bruto”?)

sabão n. m. 1. detergente 2. sabonete

sabão-mainate, sabão-mainato n. m. sabão em barra, por oposição a sabão no sentido de detergente ou de sabonete (de sabão de mainate, para a etimologia ver mainate)

sachicunda n. m. Hist. capitão de um regimento de chicundas [HM]

sacudu n. m. mochila (do francês sac-à-dos, “id.”)

sadza n. f. papa de farinha e água, usada como acompanhamento, chima, massa, úchua

saguate n. m. 1. Hist. presente de cortesia ou para comprar favores [HM] 2. gorgeta, mata-bicho 3. quantidade dada a mais numa compra; bacela

sair v. i. ser aprovado, passar (num exame) (“saiu na escrita, só falta a oral”): antónimo de ficar = chumbar

samassua n. m. chefe tradicional, abaixo de um muene

satanhoco n. (adj. ?) patife, malvado, desgraçado [MC]

saúde n. m. santinho! (quando alguém espirra)

scorocoro n. m. carripanha velha, a cair aos bocados

segura n. f. pega, asa (de um saco, etc.)

sena adj. e n. membro de um grupo étnico da Zambézia, Manica, Sofala e Tete; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

senga adj. e n. membro de um grupo étnico de Tete; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

servente n. empregado de mesa

siclistar v. i. e t. espreitar, espiar

sipaio (às vezes também cipaio, grafia não justificada etimologicamente) n. m. Hist. soldado de uma força policial portuguesa do tempo colonial constituída por africanos (do inglês sipoy, “soldado nativo indiano ao serviço de exército britânico” do urdu e persa sipahi, “soldado”, de sipah, “exército”)

sócio n. m. também vocativo pessoa com quem se tem uma relação muito próxima, amigo; namorado

sofrer v. i. estragar-se; avariar-se (“a geleira sofreu”)

solar v. imp. fazer sol (“hoje está a solar”)

sonecar v. i. dormitar, cochilar

sorry v. defectivo, só com a forma da 2ª pessoa do imperativo (“sorry lá isso!”) desculpe/a! (adjectivo inglês da expressão I am sorry “lamento” (literalmente “triste, pesaroso, magoado, desconsolado”), usado como verbo por analogia com desculpe/a)

spreiar, sprear v. i. (e t.?) pulverizar, usar um spray

straight [streite] adj. e n. pessoa antiquada, conservadora; antiquado, bota-de-elástico, conservador, reaccionário (palavra inglesa, com o significado original de “recto, direito”)

suca interj. (Imperativo de verbo defectivo?) vai‑te embora, bicho!; expressão para enxotar animais, xô!, famba

sura n. f. bebida alcoólica de palma

suruma, soruma n. f. Bot. cânhamo indiano, Cannabis sativa, bangue, djadja, passa

surumático n. e adj. pessoa que fuma suruma; drogado com suruma

tacos n. m. p., geralmente com o artigo definido (“... e o gajo lá ficou com os tacos”) dinheiro, dough, titchapau

tando n. m. paisagem de mato aberto, com arbustos e árvores de pequeno porte

tanga n. f. Hist. oitavo de um matical [HM]

tatá, tá-tá? [tá‑tá] interj.? saudação de despedida, adeus (expressão inglesa)

taxeiro [tàcseiro] n. m. motorista de táxi, taxista

tchecar, checar v. t. verificar, ver (do inglês check, “id”)

tchilar v. i. divertir-se, curtir; v. t. desfrutar, gozar, curtir (prov. do inglês chill, com o mesmo uso intransitivo em calão)

tchopar, txopar v. t. apedrejar com fisga (do changana (ku)tchpa)

tchopelar, txopelar v.t. e i. pendurar-se num transporte em movimento; apanhar boleia (do ronga (ku)tsopela)

tchova (xitaduma), txova (xitaduma) n. m. carrinho de mão de aluguer (expressão changana, ”empurra que há-de pegar”, irónico)

tchovar, txovar v. t. empurrar (do changana tchova, “id.”)

tchunar, txunar v. i. vestir-se bem, arranjar-se; maquilhar-se v. t. lavar ou limpar bem, pôr a brilhar (um carro, por exemplo)

tchuna baby, txuna baby n. f. calça de rapariga, de cintura descida (de Tuna Baby ®?; de tchunar?)

tica s. f. arcaico? hiena (das línguas sena, ndau e nhúnguè)

timaca n. f. problema, confusão, briga, disputa, milando, maca [MC] (Ver milando para mais informação sobre a palavra)

timbila n. f. marimba (do ronga ou changana?, plural de mbila, “id.”)

timbilar v. i. tocar timbila [MC]

timbileiro n. m. tocador de timbila

time [taime] n. m. tempo, altura (“naquele time eu morava em Marromeu”) (palavra inglesa)

tíner n. m. diluente (do inglês thinner, “id.”)

tia n. f. (como vocativo) senhora, como tratamento de respeito, sobretudo de uma criança a uma adulta

tio n. m. (como vocativo) senhor, como tratamento de respeito, sobretudo de uma criança a um adulto

titchapau n. m. dinheiro, dough, tacos

tocossado n. m. modo de cozer alimentos com água, cebola, tomate e gordura, água-e-sal

tomatinho preto n. m. planta, Solanum nigrum [CVP]

tonga adj. e n. membro de um grupo étnico de Inhambane; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua, bitonga

tontonto n. m. bebida destilada, aguardente, catchaço

tossecar [tòssecar] v. t. e i. beber

trás n. m. espaço atrás (“está aí à tua trás”) (de trás, preposição, substantivado por analogia com frente)

trevo falso n. m. tipo de ervas do género Oxalis, amendoim do corvo, amendoim do trevo, azedinha, erva azeda [CVP]

tricofaite n. m. mistura de vinho branco com gasosa, o que se chamava em Portugal mistura branca ou branco com mistura

tsonga adj. e n. membro de um grupo étnico que inclui changanas, rongas e tsuas; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

tsua adj. e n. membro de um grupo étnico de Inhambane; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua

tsunga n. f. tipo de legume, folha de nabo, nabiça, Brassica rapa

txopela, tchopela, ntxopelo n. m. triciclo motorizado táxi

txote, tchote adj. e n. de pequena estatura, baixo, baixote 

úchua n. f. papa de farinha e água, usada como acompanhamento, chima, massa, sadza (do changana)

ujamaa, udjamaa n. f. tipo de escultura em que muitas figuras humanas se equilibram umas sobre as outras (do maconde ujamaa, “família”)

ultimar v. i. chegar ao fim, acabar

umbila n. f. tipo de árvore, Pterocarpus angolensis, cuja madeira é muito utilizada em marcenaria, construção civil e construção de barcos, imbila.

upa n. f. acção de transportar uma criança, ao colo ou às cavalitas (“a menina quer upa”)

uputu, uputsu n. m. cerveja tradicional, no Sul do país, cabanga, oteca, pombe

vaca-do-mato n. f. tipo de antílope, Sigmoceros lichtensteinii = Alcelaphus lichtensteinii, ecoce, gondonga, nameriga [CVM]
ventar v. imp. fazer vento

vicks n., normalmente atributivo (“um rebuçado vicks, cigarros vicks”) mentol (de Vicks ®)

viente n. m. (f. ?) imigrante, pessoa que veio de outro lugar (deverbal, de vir)

vorse n. m. salsicha fresca (do afrikaans wors, “salsicha”)

xicaca (chicaca?) n. (adj. ?) pessoa branca, maguerre, mucunha, mulungo, muzungo 

xicandarinha, chicandarinha, xicandirinha, xicadarinha n. f. chaleira 

xiconhoca, chiconhoca n. m. no período socialista, reaccionário, inimigo da revolução, por ideologia ou por maus hábitos (preguiça, alcoolismo, falta de sentido colectivista, etc.) (de Xico, Chico, diminutivo de Francisco, e nyoka, “cobra”)

xicuembo
n. m. feitiço; espírito dos antepassados; Deus

xicunlunguelar v. i. ulular de alegria (as mulheres) [MC]

xidjumba n. f. trouxa 

xindiro n. m. pião (de jogar)

xipalapala n. f. corneta de chifre de boi [MC]

xipanelana n. m. pequeno restaurante informal ou banca de vender comida (do changana xipanelana, “panelinha” do português panela)

xipefo n. m. candeeiro a petróleo

xipene (também chipene)  n. m. espécie de corça, do género Raphicerus (campestris ou sharpei) (do tsua e do ndau xipene) [CVM]

xipoco n. m. fantasma, psipoco [MC] )

xirico n. m. 1. tipo de rádio pequeno a pilhas (®) 2. tipo de ave, Serinus mozambicus, também conhecido como canário de Moçambique

xitimela n. m. comboio (do tsonga xitimela, “id.”, do inglês steam, “vapor”)

xitolo, chitolo n. m. cantina; loja

xituculumucumba, xitukulumucumba n. papão (do ronga e changana xitukulumukhumba)

yao adj. e n. membro de um grupo étnico do Niassa; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua, ajaua

zambuco n. m. Hist. embarcação maior que um pangaio, do mesmo tipo [HM]

zunar (zonar?) v., provavelmente defectivo, usando‑se apenas o Infinitivo, normalmente em construções perifrásticas (estar, ir, andar + a zonar) andar (de carro) com muita velocidade, acelerar, abrir (de origem onomatopaica?)

Instabilidade no uso dos pronomes objecto

O português de Moçambique está a atravessar uma fase de grande instabilidade no que diz respeito ao uso dos pronomes objecto.

Quanto à colocação do pronome na frase, observa-se às vezes uma tendência para a anteposição do pronome relativamente ao verbo, como no português do Brasil (“Eh, pá, você me está a insultar, ou quê?”) e às vezes uma tendência para a posposição do pronome em situações em que tal não aconteceria nem no português europeu nem no português brasileiro (“Como ela chama-se?”).

Além disso, há grande instabilidade na escolha das formas de acusativo e dativo. Por influência da estrutura das línguas bantas, a tendência é cada vez mais usar sempre lhe(s) quando o pronome refere pessoas, independentemente de se usar com um verbo transitivo directo ou não: “A Ermelinda já chegou da Beira; encontrei-lhe ontem à noite na rua”.

Construção com nem em início de frase

Ao contrário do que acontece noutras variantes do português, nas frase iniciadas com nem, com o sentido de “nem sequer”, coloca-se um não antes do verbo: “estava teso, nem dinheiro para beber uma cerveja não tinha”. A construção também é usada pelos moçambicanos que têm o português como língua materna.

Redobro no português de Moçambique

Chamo redobro à duplicação consecutiva de uma unidade lexical.

Em português, usa-se o redobro de nomes e adjectivos (“ele é doido doido” ou “isto é que é medronho medronho”), de quantificadores, em frases negativas (“não gosto muito muito”, “não é assim tanto tanto…”) ou de formas verbais, para formar nomes (chupa-chupa).

Em Moçambique, há algumas destas formas com redobro de forma verbal para formar nomes que não são utilizadas no português europeu. Dois exemplos de que me lembro são ganho-ganho, que significa trabalho remunerado monetariamente, por oposição aos sistemas de ajuda mútua, e mata-mata, para referir o jogo infantil que em Portugal se chama apenas mata.

Usa-se também muito o redobro do quantificador pouco para formar um adverbial pouco-pouco, que significa “pouco a pouco”, “devagarinho” (“Como vão as obras lá de casa?” “Iá, mas estamos a fazer pouco-pouco”), mas é provável que não se trate de um verdadeiro redobro, mas antes do apagamento do a, que é comum em Moçambique: “Estou pedir” em vez de “estou a pedir”, “garrar” ou “cabar” em vez de agarrar ou acabar, etc.

Finalmente, outro uso muito moçambicano do redobro é o que se faz com numerais, quando se fala de preços, para significar “cada um”:
- A como está a folha de abóbora?
- Está (a) mil mil (=mil meticais [antigos] cada molho).
ou
- A como estão os cigarros? [em Moçambique, vendem-se na rua cigarros avulsos]
- Quinhentos quinhentos (=cinquenta centavos cada).

Pronúncia do português em Moçambique

Português língua materna

A pronúncia dos moçambicanos de língua materna portuguesa da 1ª geração (isto é, os que já tinham o português como língua materna na altura da independência) é muito parecida com a do português europeu, muitas vezes indistinguível. Dois traços que podem às vezes caracterizar o sotaque desses moçambicanos são a pronúncia “dura” de d e g entre vogais (ou seja, pronunciar da mesma forma os dois dd de dado ou os dois gg de gago) e pronunciar como um j o s entre vogais quando este liga duas palavras (ou seja, pronunciar “’tás a fazer” [tàjafazer] em vês de [tàzafazer]) [o que também pode acontecer, aliás, em algumas zonas de Portugal]. Os rr são sempre vibrantes alveolares e nunca guturais.

A mesma pronúncia muito próxima da pronúncia europeia mantém-se entre as elites de língua materna portuguesa das gerações seguintes (normalmente em pessoas com pais de língua materna portuguesa) e sobretudo em Maputo, que é onde há maior percentagem de falantes de português como língua materna ou de nível elevado como língua segunda.

Há muitos casos, porém, em que os moçambicanos que agora têm o português como língua materna não têm pais de língua materna portuguesa, mas antes que utilizam o português como língua de comunicação entre eles (por exemplo, pai chuabo, mãe maconde) e que, muitas vezes, vivem num meio onde o português é falado como língua de comunicação. Nestes casos, há fortes influências da pronúncia da língua da zona onde a pessoa vive e a sua pronúncia é muito parecida com a das pessoas da zona que falam o português como língua segunda ou estrangeira.

Português língua segunda ou estrangeira

É muito difícil fazer uma descrição unificada da pronúncia do português como segunda língua ou língua estrangeira, porque essa pronúncia difere, naturalmente, de região para região, em função da língua materna das pessoas. Há, porém, alguns traços comuns a muitas línguas bantas (alguns a todas), que posso aqui apontar:

• Ausência de encontros consonânticos típicos da pronúncia europeia ou impossibilidade de ocorrência no fim da palavra de determinadas consoantes. Neste sentido, muitos moçambicanos falam “como” os brasileiros ou os espanhóis – para dizer stress, pneu ou afta, por exemplo, introduzem uma vogal entre as consoantes: e também pode acontecer introduzirem um som vocálico, por exemplo, entre o s e o n da sequência mas nada...

A e e abertos: em geral, não há, nas línguas bantas, vogais fechadas e muito menos ee mudos, o que faz com que o [â] se pronuncie [á] e o e átono se pronuncie [i] ou [ê].

• Troca de [l] por [r], e das consoantes surdas [p], [t] e [k] pelas sonoras correspondentes [b], [d] e [g] e vice-versa. Em muitas línguas, as versões surdas e sonoras das oclusivas não são entendidas como sons diferentes, mas como variantes do mesmo som, consoante os sons que têm antes ou depois. Um exemplo extremo deste fenómeno é pronunciar [progo] a palavra bloco, como eu uma vez ouvi.

• Em várias regiões, pronúncias explosivas do t, e com a língua mais acima, como em inglês.

• Ausência de distinção entre o r simples e o r múltiplo, isto é, entre caro e carro.

• Erros de hipercorrecção: como têm consciência de que uma pronúncia “correcta” deve ter ee mudos, alguns moçambicanos fecham ee que nós abrimos em português europeu e que constituem excepção à regra de fechar todos os ee átonos. Assim, vamos ouvir pessoas que, por hipercorrecção, pronunciam esquecer [shkcer] em vez de [shkècer], por exemplo.

Deixo-vos também um link para um texto meu no meu blogue Travessa do Fala Só em que discuto uma questão de pronúncia do português em Moçambique.

Particularidades da voz passiva

Por influência da estrutura das línguas bantas, fazem-se, com muita frequência, frases passivas cujo sujeito é o objecto indirecto das frases activas que lhes correspondem. Diz-se, por exemplo, que “aquela associação de camponeses agora foi dada insumos por uma ONG suíça” ou que “nós fomos pedidos estar lá às 15 horas”.

Trata-se de uma tendência muito forte, que se começa a observar também nas novas gerações de moçambicanos de língua materna portuguesa. É provável, portanto, que se venha a afirmar como característica do português de Moçambique.

A questão dos brasileirismos

Nicole Gazonato, de São Paulo, teve a gentileza de me enviar uma lista de palavras que encontrou no glossário e que diz existirem também no Brasil. É-me impossível determinar se essas palavras foram efectivamente importadas do português do Brasil pelos moçambicanos falantes de português ou se se trata antes de coincidências, expressões surgidas independentemente em Moçambique, que, por acaso, são iguais a expressões brasileiras. É indubitável que há hoje uma grande influência do português do Brasil no português moçambicano, mas creio que algumas das expressões listadas por Nicole Gazonato existiam em Moçambique antes de essa influência existir – o que não significa que não possam, ainda assim, ter sido importadas do português brasileiro. Eis a lista das palavras referidas por Nicole Gazonato, a quem muito agradeço a sua colaboração, algumas com os seus exemplos ou comentários. Para mais informações (por exemplo, em que sentido ou uso é que estas palavras são moçambicanismos e/ou brasileirismos), ver a entrada das palavras listadas:

amanhecer
Ex. A comida amanheceu fora da geladeira; Amanheci esta noite na internet
capaz Ex. Capaz de ele vir aqui em casa hoje = De jeito nenhum ele virá, ou Duvido que ele venha
capinar
checar
concunhada, concunhado
desenho
djô
empoderamento
emprestar
ficar Ex. Fiquei em duas matérias; Fiquei de português
flat "Usa-se flat para se referir a apartamentos, principalmente os de pouca metragem, mas não de baixo padrão"
gelinho "Também geladinho, dependendo da região do país."
gingar
papudo "[No Brasil], pode-se usar num sentido mais positivo também, como uma pessoa boa de "papo", com boa lábia."
postar
sabão
saúde
tia, tio
ventar