Português língua maternaA pronúncia dos moçambicanos de língua materna portuguesa da 1ª geração (isto é, os que já tinham o português como língua materna na altura da independência) é muito parecida com a do português europeu, muitas vezes indistinguível. Dois traços que podem às vezes caracterizar o sotaque desses moçambicanos são a pronúncia “dura” de
d e
g entre vogais (ou seja, pronunciar da mesma forma os dois
dd de dado ou os dois
gg de gago) e pronunciar como um
j o
s entre vogais quando este liga duas palavras (ou seja, pronunciar “’tás a fazer” [tàjafazer] em vês de [tàzafazer]) [o que também pode acontecer, aliás, em algumas zonas de Portugal]. Os
rr são sempre vibrantes alveolares e nunca guturais.
A mesma pronúncia muito próxima da pronúncia europeia mantém-se entre as elites de língua materna portuguesa das gerações seguintes (normalmente em pessoas com pais de língua materna portuguesa) e sobretudo em Maputo, que é onde há maior percentagem de falantes de português como língua materna ou de nível elevado como língua segunda.
Há muitos casos, porém, em que os moçambicanos que agora têm o português como língua materna não têm pais de língua materna portuguesa, mas antes que utilizam o português como língua de comunicação entre eles (por exemplo, pai chuabo, mãe maconde) e que, muitas vezes, vivem num meio onde o português é falado como língua de comunicação. Nestes casos, há fortes influências da pronúncia da língua da zona onde a pessoa vive e a sua pronúncia é muito parecida com a das pessoas da zona que falam o português como língua segunda ou estrangeira.
Português língua segunda ou estrangeiraÉ muito difícil fazer uma descrição unificada da pronúncia do português como segunda língua ou língua estrangeira, porque essa pronúncia difere, naturalmente, de região para região, em função da língua materna das pessoas. Há, porém, alguns traços comuns a muitas línguas bantas (alguns a todas), que posso aqui apontar:
• Ausência de encontros consonânticos típicos da pronúncia europeia ou impossibilidade de ocorrência no fim da palavra de determinadas consoantes. Neste sentido, muitos moçambicanos falam “como” os brasileiros ou os espanhóis – para dizer
stress,
pneu ou
afta, por exemplo, introduzem uma vogal entre as consoantes: e também pode acontecer introduzirem um som vocálico, por exemplo, entre o
s e o
n da sequência
mas nada...
•
A e
e abertos: em geral, não há, nas línguas bantas, vogais fechadas e muito menos
ee mudos, o que faz com que o [â] se pronuncie [á] e o
e átono se pronuncie [i] ou [ê].
• Troca de [l] por [r], e das consoantes surdas [p], [t] e [k] pelas sonoras correspondentes [b], [d] e [g] e vice-versa. Em muitas línguas, as versões surdas e sonoras das oclusivas não são entendidas como sons diferentes, mas como variantes do mesmo som, consoante os sons que têm antes ou depois. Um exemplo extremo deste fenómeno é pronunciar [progo] a palavra
bloco, como eu uma vez ouvi.
• Em várias regiões, pronúncias explosivas do
t, e com a língua mais acima, como em inglês.
• Ausência de distinção entre o
r simples e o
r múltiplo, isto é, entre
caro e
carro.
• Erros de hipercorrecção: como têm consciência de que uma pronúncia “correcta” deve ter
ee mudos, alguns moçambicanos fecham
ee que nós abrimos em português europeu e que constituem excepção à regra de fechar todos os
ee átonos. Assim, vamos ouvir pessoas que, por hipercorrecção, pronunciam
esquecer [shkcer] em vez de [shkècer], por exemplo.
Deixo-vos também um link para
um texto meu no meu blogue Travessa do Fala Só em que discuto uma questão de pronúncia do português em Moçambique.
godtei
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