O termo encontra-se, nomeadamente, no texto Relação do estado presente de Moçambique, Sena, Sofala, Mhambane, e todo o continente de África Oriental, de Inácio Caetano Xavier (1758) e no texto Memória sobre a costa da África, de António Pinto de Miranda, 1766 (referidos por José Roberto Braga Portella na sua tese Descripçoens, Memmórias, Noticias e Relaçoens, Administração e Ciência na construção de um padrão textual iluminista sobre Moçambique, na segunda metade do Século XVIII, Cutitiba: CEDOPE, 2006).
aboboreira-de-inhambane n. f. Telfairia pedata, castanha-de-inhambane

aboboreira-de-inhambane
abunhado n. m. Hist. colono que vivia nas terras do senhorio, obrigando-se a viver e a trabalhar nelas
A definição é do antropólogo e historiador Carlos Lopes Bento, cuja colaboração muito agradeço. Esta definição de abunhado pode encontrar-se no Glossário inserido nos Anexos da sua tese de doutoramento (As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado - Situação colonial, resistências e mudanças (1742-1822), Vol.II, p. 1117-1131, disponível online). Na p. 6 do Vol. I do seu Glossário Luso-Asiático (Coimbra: Imprensa da Universidade, 1919) Sebastião Rodolfo Dalgado refere uma origem indiana do termo. Segundo este autor, a palavra abunhado significa, “na Índia, trabalhador que, nascido em terras de um patrão, era obrigado a servi-lo, mesmo não sendo escravo” e deriva provavelmente do persa bunyâd, “alicerce, fundamento, fundo”.
acabar v. t.? (com expressões de tempo: acabar X tempo) passar, estar (“a Cláudia acabou 2 meses no hospital à espera de ser operada”)
açafrada n. f. cártamo, Carthamus tinctoris [CVP]
açafrada n. f. cártamo, Carthamus tinctoris [CVP]
acertar v. com dativo prender; apanhar (“a polícia desconseguiu de lhe acertar”)
achar [àchar] n. m. conserva picante de fruta ou legumes à maneira indiana (de manga, limão, cenoura, etc.) (do urdu achar)
Não se pode afirmar que seja propriamente um moçambicanismo, mas em Moçambique toda a gente sabe o que é achar, que é uma palavra de uso comum, o que não acontece, por exemplo, em Portugal.
acidentar v. i. ter um acidente (“Foi aqui que o Vasco acidentou”)
adimo n. m. Hist. inimigo; descendente de escravos ligados à família do senhor
A definição é do antropólogo e historiador Carlos Lopes Bento, cuja colaboração muito agradeço. No segundo capítulo do Volume I da sua obra As Ilhas de Querimba ou de Cabo Delgado - Situação colonial, resistências e mudanças (1742-1822), Carlos Bento Lopes explica que o termo, que é usado em diversos documentos portugueses, vem da palavra swahili hadimu, que Charles Sacleux, no seu Dictionnaire Swahili-Français, define como “criança ou descendente de africano libertado”.
afatado adj. bem vestido; fino, aperaltado, apinocado
afinal adv. usado como interjeição exclamação de surpresa, que corresponde a “ah, sim?” ou “não me digas!” em português europeu
água-e-sal n. f. (água-e-sal de galinha, de peixe, etc.) processo culinário, que consiste em cozer com água, cebola, tomate e gordura, tocassado
Creio que a expressão é sobretudo moçambicana, mas vi-a utilizada também para receitas timorenses
ainda adv. (como resposta a perguntas sobre se algum evento já ocorreu) ainda não (“Já vieram os técnicos da TDM?” “Ainda.”)
Além dos outros usos iguais aos de outras variantes do português.
ajaua adj. e n. membro de um grupo étnico do Niassa; a sua língua; relacionado com este grupo étnico ou com a sua língua, yao
alacavuma, halacavuma n. m. mamífero insectívoro, pangolim, Manis temminckii (de várias línguas da região, entre as quais as línguas tsonga, ndau e cópi [ver CVM])
Contribuição de Manuel Azevedo.
Contribuição de Manuel Azevedo.
algodão-bravo n. m. Gossypium herbaceum africanum [CVP]
Noutras variantes do português, o termo algodão-bravo designa outras plantas. No Brasil, refere sobretudo a espécie Ipomoea carnea.
almadia n. f. canoa; pequena embarcação (do árabe ± al-madia)
O termo encontra-se registado em todos os dicionários que consultei. O dicionário Priberam online e o dicionário Porto Editora definem almadia como “embarcação africana, esguia e comprida”. O dicionário Michaelis dá também essa definição, acrescentando que é “feita de um só tronco de árvore”, e dando conta de uma variante almandia. A palavra almadía também existe em espanhol e, quanto à sua origem, o dicionário da Real Academia Española é mais preciso do que os dicionários portugueses: estes referem uma origem árabe al-ma’adia ou al-ma’adiya, ao passo que aquele especifica que a palavra vem do árabe hispânico alma‘díyya. A palavra almadie está registada em dicionários franceses e ingleses, afirmando-se às vezes que, além de uma canoa africana, a palavra pode também referir uma embarcação indiana de maiores dimensões. Na pág. 26 do Vol. I do seu Glossário Luso-Asiático (Coimbra: I. da Universidade, 1919), Sebastião Dalgado diz que “o termo [almadia] vogava na África austral (onde está em uso em landim) ao tempo dos descobrimentos portugueses, sendo depois levado para a Índia, onde penetrou no malaiala”. A primeira ocorrência da palavra de que dá conta é na obra de Cadamosto, escrita por volta de 1460. Dalgado não explica o itinerário da palavra, mas parece, portanto, que ela já se usava em português antes de os Portugueses terem chegado à África Austral. Não me parece que almadia seja um moçambicanismo em sentido estrito, mas penso que a palavra foi e é mais usada em Moçambique do que nos outros países de língua portuguesa, donde a sua inclusão no glossário.
Noutras variantes do português, o termo algodão-bravo designa outras plantas. No Brasil, refere sobretudo a espécie Ipomoea carnea.
almadia n. f. canoa; pequena embarcação (do árabe ± al-madia)
O termo encontra-se registado em todos os dicionários que consultei. O dicionário Priberam online e o dicionário Porto Editora definem almadia como “embarcação africana, esguia e comprida”. O dicionário Michaelis dá também essa definição, acrescentando que é “feita de um só tronco de árvore”, e dando conta de uma variante almandia. A palavra almadía também existe em espanhol e, quanto à sua origem, o dicionário da Real Academia Española é mais preciso do que os dicionários portugueses: estes referem uma origem árabe al-ma’adia ou al-ma’adiya, ao passo que aquele especifica que a palavra vem do árabe hispânico alma‘díyya. A palavra almadie está registada em dicionários franceses e ingleses, afirmando-se às vezes que, além de uma canoa africana, a palavra pode também referir uma embarcação indiana de maiores dimensões. Na pág. 26 do Vol. I do seu Glossário Luso-Asiático (Coimbra: I. da Universidade, 1919), Sebastião Dalgado diz que “o termo [almadia] vogava na África austral (onde está em uso em landim) ao tempo dos descobrimentos portugueses, sendo depois levado para a Índia, onde penetrou no malaiala”. A primeira ocorrência da palavra de que dá conta é na obra de Cadamosto, escrita por volta de 1460. Dalgado não explica o itinerário da palavra, mas parece, portanto, que ela já se usava em português antes de os Portugueses terem chegado à África Austral. Não me parece que almadia seja um moçambicanismo em sentido estrito, mas penso que a palavra foi e é mais usada em Moçambique do que nos outros países de língua portuguesa, donde a sua inclusão no glossário.
amanhecer v. i. (alguém amanhecer) ficar acordado até de manhã, passar uma noite em branco, fazer uma directa; (alguma coisa amanhecer) ficar toda a noite num lugar
amendoeira-de-fudaman n. f. tipo de árvore, Terminalia catappa [CVP]
amendoim do corvo, amendoim do trevo n. m. tipo de ervas do género Oxalis, azedinha, erva-azeda, trevo-falso [CVP]
No Brasil, chama-se amendoim-bravo.
ampola n. f. garrafa de cerveja de 340 ml (ver bazuca)
Contribuição de Miguel, Maputo.
animar v. i. ser bom; dar prazer (“chima de milho é melhor, mas aquela caracata também anima”)
antepassado adj. penúltimo
Esta acepção do termo aparece registada no dicionário Porto Editora como sendo moçambicana.
amendoeira-de-fudaman n. f. tipo de árvore, Terminalia catappa [CVP]
amendoim do corvo, amendoim do trevo n. m. tipo de ervas do género Oxalis, azedinha, erva-azeda, trevo-falso [CVP]
No Brasil, chama-se amendoim-bravo.
ampola n. f. garrafa de cerveja de 340 ml (ver bazuca)
Contribuição de Miguel, Maputo.
animar v. i. ser bom; dar prazer (“chima de milho é melhor, mas aquela caracata também anima”)
antepassado adj. penúltimo
Esta acepção do termo aparece registada no dicionário Porto Editora como sendo moçambicana.
apa n. f. acompanhamento de diversos pratos, feito de um polme frito, que também pode ser comido com doce, como panqueca
Apa é, na origem, uma palavra goesa e não se pode considerar um moçambicanismo em sentido estrito, mas, actualmente, é sobretudo em Moçambique que se usa, donde a sua inclusão neste glossário. O dicionário Priberam online define apa como “bolo de farinha de arroz e azeite de coco usado na Ásia”, uma descrição que não se aplica bem pelo menos às apas moçambicanas. Moçambicanismos, de Lopes, Sitoe e Nhamuende dá um sinónimo exacto para apa: roti ou rothi. A Wikipédia em português tem uma entrada apa.
areca n. f. noz moscada
aringa n. f. Hist. tipo de fortificação do séc. XIX paliçada, chuambo (séc. XVII), mussito (séc. XVIII) [HM]
O dicionário Priberam online define aringa como “campo fortificado (em África)”. O dicionário Porto Editora diz que aringa é um “campo fortificado, entre os habitantes da África Ocidental (???)” e que a palavra vem do cafreal [sic] aringa. O dicionário Houaiss confirma esta etimologia, propondo para a palavra uma origem cafre [sic] (colaboração de Margarida Castro). As referências a aringas que encontro em Google dizem todas respeito a Moçambique, pelo que não me parece provável que a palavra tenha um uso tão geral como propõem os dicionários referidos. Eça de Queiroz usa a palavra, na sua tradução de King Solomon’s Mines de Rider Haggard, para traduzir a palavra kraal do original inglês.

aringa de Massangano, perto de Tete, em 1888 (gravura de A. de Castilho em Relatorio da guerra da Zambesia, Lisboa, 1891).
aumentar v. t. pôr (“ele já aumentou pneus novos no carro”); antónimo de diminuir = tirar
azedinha n. m. tipo de ervas do género Oxalis, amendoim-do-corvo, amendoim-do-trevo, erva-azeda, trevo falso [CVP]
No Brasil, chama-se amendoim-bravo.
Excelente. Para um estrangeiro vivendo em Moçambique, é mais valor do que um dicionário.
ResponderEliminarRealmente excelente, pois estou trabalhando temporariamente em Maputo, cheguei até mesmo a comprar o dicionario de CHANGANA-PORTUGUÊS do Bento Sitoe.
ResponderEliminarMas a colocação das palavras em ordem alfabeticas no sentido de Changana para o Português, dificulta um bocado pois em geral iremos procurar uma palavra em Português para ver sua tradução para Changana.
Obrigado, Marcelo. Sim, para si seria mais útil um dicionário português-changana. A ideia aqui não é dar traduções de palavras das línguas moçambicanas (são muitas, cada uma com dezenas de milhares de palavras, como qualquer língua), mas apenas listar palavras usadas no português de Moçambique que não se usem noutras variantes do português ou que, mesmo que se usem, tenham tido origem nesta parte do mundo.
EliminarMe surpreendo quando leio, realmente incrivel.
ResponderEliminarnao tenho palavra suficientes para elogia-lo
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